O GP do Bahrein deste domingo (20), como primeira corrida da temporada, chegava carregado da expectativa natural das muitas dúvidas que tinha a tirar.
Talvez a principal delas no regulamento era se os carros conseguiram perseguir uns aos outros de perto, algo que era quase impossível por mais que alguns instantes no ano passado. A resposta foi encorajadora: as brigas por posições foram incontáveis. Outra, quanto a ordem de forças, era natural: a Ferrari era de verdade? Charles Leclerc transformou a pole em vitória e abriu a temporada com a F1 pintada de vermelho.
Esteve longe de ser uma daquelas corridas em que o pole largou bem e sumiu no horizonte. O monegasco teve de protagonizar uma das disputas por posições daquelas divertidas, que o público tanto gosta. Max Verstappen parou nos boxes uma volta antes, na primeira janela de trocas, e cortou a diferença de 3s para 0s3. Por três voltas seguidas, Verstappen ultrapassou Leclerc entre as curvas um e dois. Por três voltas seguidas, Charles recuperou a ponta.
É um acerto de contas com a história. Leclerc esteve muito próximo de vencer a primeira corrida dele na F1 no Bahrein em 2019. Por questões normais de pista, não tinha como perder pela vantagem que estava posta para as Mercedes, mas o motor Ferrari falhou. A potência foi violentamente cortada e permitiu que Lewis Hamilton e Valtteri Bottas passassem por ele e adiassem aquela primeira vitória, que viria apenas meses depois. O Bahrein já não é mais uma página triste na biografia de Charles na F1.
O fim da história teria uma dobradinha da Ferrari, com Carlos Sainz em segundo, após Max Verstappen e Sergio Pérez terem problemas no final. O começo que os italianos tinham para sonhar. A primeira vitória desde o GP de Singapura de 2019 e já com dobradinha.
Os problemas da Red Bull foram um caso à parte. Verstappen vinha pedindo para a equipe esclarecer qual era a questão há pelo menos 20 minutos quando a situação saiu de controle. Os rubro-taurinos não sabiam o que havia de errado, simplesmente, e Max não conseguiu mais andar. A três voltas do fim, saiu de segundo colocado para abandonar. No instante seguinte, foi Sergio Pérez quem avisou que tinha problemas. Estava em terceiro, mas, na penúltima volta e com Lewis Hamilton na pressão, errou. O carro rodou e fim de papo. Red Bull sem pontos.
A corrida reforçou a impressão dos últimos dias: em termos puros de rendimento, a Mercedes é terceira força. Hamilton se manteve na quinta colocação de maneira sólida e, quando a sorte sorriu, apareceu para completar o pódio. George Russel ficou em quarto, enquanto Kevin Magnussen, na Haas que surge como xodó da temporada, foi o melhor do resto em quinto. Valtteri Bottas colocou a Alfa Romeo em sexto, enquanto Esteban Ocon foi sétimo, Yuki Tsunoda fechou em oitavo, Fernando Alonso e o estreante Guanyu Zhou fecharam o top-10.
Se a preocupação eram os problemas de confiabilidade, o resultado foi até que bastante aceitável. Fora a Red Bull, somente Pierre Gasly, que viu um incêndio no carro, tiveram algum problema.
A Fórmula 1 retorna já no próximo fim de semana, entre os dias 25 e 27 de março, para o GP da Arábia Saudita, em Jedá. Com muitas respostas a mais para dar.
Confira como foi o GP do Bahrein:
O que não faltava para o GP do Bahrein do domingo era perguntas penduradas. Qual o nível real da Ferrari? Era o bastante para segurar Max Verstappen e a o ímpeto da Red Bull? E Lewis Hamilton, com a Mercedes em ritmo de corrida? Essas se destacavam pela altura do grid em que eram feitas, mas várias outras podiam ser apontadas para o pelotão intermediário e a rabeira do grid. A hora das respostas estava apenas começando.
No horário certo e já com a noite consolidada no Bahrein, a Fórmula 1 abriu a temporada 2022 com a largada da estreia. Charles Leclerc conseguiu manter a dianteira ainda que Verstappen tenha emparelhado a Red Bull, mas os três primeiros lugares se mantiveram. Já Sergio Pérez, partiu muito mal: perdeu de cara duas posições. Kevin Magnussen imediatamente ultrapassou Valtteri Bottas e Pérez para assumir o quinto lugar e atacar Hamilton, mas o heptacampeão se defendeu para permanecer.
George Russell já pintava em sétimo, duas posições acima de onde largara, enquanto Mick Schumacher e Esteban Ocon se tocavam no meio do pelotão na primeira volta, algo que a direção de prova rapidamente avisou que ia avaliar. Instantes depois, punição de 5s para Ocon, a primeira da temporada.
Apenas as duas McLaren não largavam de pneus macios: Lando Norris e Daniel Ricciardo optaram pelos médios e, de maneira acachapante, viraram a primeira volta em 18º e 20º. A aposta, de fato, era num trabalho espetacular da estratégia para recuperar.
A magia de Magnussen com a Haas não durou tanto. Com as posições assentadas após a largada, Pérez ultrapassou e logo Russell fez a mesma coisa. Após a posição muito ruim de saída, o inglês se colocava no bolo do resultado possível atrás apenas de Hamilton, Ferrari e Red Bull. O que não queria dizer que Magnussen não seguia bem, diga-se: ainda era o melhor do resto, seguido por Pierre Gasly, Fernando Alonso e Ocon, esse punido.
Entre aqueles que partiram do Q3, Yuki Tsunoda era o grande destaque: era o 11ª colocado na quarta volta e, com a punição a Ocon, estava bem posicionado para entrar na zona de pontos. Alex Albon também se destacava e saíra de 14º para 12º com a Williams. A Alfa Romeo de Bottas fazia o caminho oposto e parecia em 13º depois de uma largada terrível. Na oitava volta, porém, Valtteri conseguiria deixar Albon para trás.
A realidade da corrida já não era mais a da largada após sete das 57 voltas, mas as brigas por posição eram constante. A primeira resposta com relação ao desejo do novo regulamento de permitir que os carros conseguissem se aproximar bastante para perseguir uns aos outros sem tanta turbulência era positiva.
A décima volta tinha Leclerc com 3s de frente para Verstappen e se distanciando na primeira colocação, enquanto Pérez conseguia ultrapassar Hamilton com certa tranquilidade. Red Bull e Ferrari começam a temporada com uma vantagem a olhos vistos frente aos rivais mais temidos dos últimos anos. Verstappen, que já reclamara que os freios estavam agindo estranhamente no meio das curvas, agora afirmava que a tração era também um problema.
A janela de pit-stop abriu na 12ª volta. Lewis Hamilton entrou para colocar pneus duros e retornou em cima de Guanyu Zhou, que aproveitou os pneus frios do veterano e levou a melhor na 11ª posição – a primeira incursão dos novos pneus ainda frios mostrou dificuldade de tração. Logo depois de Lewis, Fernando Alonso também foi aos boxes para trocar pneus e colocar os médios. No Bahrein, a gama de pneus é a mais dura possível: C1 para os duros, C2 para os médios e C3 para os macios.
A hora de Verstappen nos boxes chegou no fim da volta 14: a Red Bull chamou e pôs um novo jogo de pneus macios. A Ferrari marcou e parou Sainz no mesmo momento, enquanto Leclerc, Pérez e Russell viriam no fim da 15. A Mercedes pôs pneus duros em Russell; a Red Bull, médios em Pérez; Ferrari, macios para os dois pilotos.
A parada uma volta antes fez maravilhas para a Ferrari. Se Leclerc antes tinha vantagem razoável, o retorno mostrou um Verstappen somente 0s3 atrás e com pneus mais quentes. A batalha que viria na sequência seria daquelas que o fã da F1 paga ingresso para ver. Verstappen voou na volta 16, fez o melhor giro da corrida, e ultrapassou Leclerc na curva um. Metros mais tarde, Leclerc tomou a posição para recuperar a liderança por fora na veloz curva quatro. Era apenas o começo da história.
A abertura da 18ª volta mostrou precisamente o mesmo cenário. Verstappen posicionou a Red Bull e ultrapassou na curva dois, enquanto Charles tomou a mesmíssima linha – algo quase inevitável de defender com um bom carro – para retomar a dianteira na curva quatro. Verstappen freou um pouco tarde demais duas curvas depois e perdeu um pouco de contato, mas ja se aproximava para mais um mergulho na curva um da volta 19. Mas a freada foi otimista e Leclerc deu o xis imediatamente. A travada no pneu que Max teve na tentativa era importante no cenário estratégico da prova.
As brigas por posição eram tantas que acompanhar todas ficava até complicado. Com 20 voltas, Lando Norris era o único que ainda não tinha ido aos boxes, algo que costumava a causar ultrapassagens no carro da McLaren: Zhou, Schumacher e Albon empurraram Lando para a 16ª colocação. A situação da McLaren era tão preocupante que talvez desse até para pensar numa estratégia desesperada de fazer somente uma parada ou encurtar ao máximo os dois stints de pneus macios.
No fim da volta 22, Leclerc voltava a abrir 3s para Verstappen, que, por sua vez, tinha 7s para Sainz. Pérez aparecia 2s5 atrás do espanhol. Hamilton, em quinto, apenas via Checo sumir: diferença já era de 9s. Russell, Magnussen, Gasly, Alonso e Ocon fechavam o top-10 após a primeira janela de pit-stop.
A dúvida que começava a aparecer era se apenas duas paradas nos boxes seriam suficientes. No rádio para a equipe, Sainz pediu que a Ferrari considerasse a possibilidade de uma troca de pneus a mais, dado o desgaste em Sakhir. Três paradas, pois.
Quem abriu a segunda janela de pit-stops foi Alonso, que parou no fim da volta 25 quando já começava a ser bem mais lento que o companheiro, Ocon, que se aproximava. Desta vez, porém, Fernando apostou em compostos duros para o terceiro stint. Após duas paradas em 25 corridas, os pneus duros teriam de aguentar mais de 30 giros. Será? De qualquer forma, Alonso voltava em 15º e já passava Albon logo de cara para voltar ao 14º posto.
Hamilton também se adiantou para trocar os pneus duros, algo que não era nada promissor para Alonso, e colocar os médios. Verstappen já avisava a Red Bull que a situação dos pneus se deteriorava rapidamente. Norris fizera a parada inicial à essa altura e, de pneus médios, aparecia na melancólica 20ª colocação. Enquanto isso, Ricciardo ultrapassava Nicholas Latifi para se tornar o 17º da corrida. Um balde de água fria do tamanho do Canal da Mancha para a equipe que vinha em franca recuperação nos últimos três anos. Na realidade, os seis últimos colocados eram seis carros impulsionados por motor Mercedes: Stroll, Albon, Ricciardo, Latifi, Hülkenberg e Norris.
A segunda janela de troca de pneus já estava aberta de vez. Verstappen foi de novo no final da 30ª volta, colocou os pneus médios, e voltou atrás de Pérez. A expectativa era que funcionasse tão bem quanto da primeira vez. Leclerc entrou na oportunidade seguinte e pôs os médios. A reação imediata deu certo desta vez. Max de novo se aproximou, mas desta vez não o suficiente para atacar. Com o pedido da Red Bull para que protegesse os pneus, avisou, já incomodado, que desse jeito “nunca ia chegar nele de novo”. O que não ajudava era o fato da Ferrari ter efetuado um pit-stop 0s5 mais rápido: 2s5 contra 3s.
Hamilton tinha uma corrida que era só dele. O quinto lugar estava praticamente garantido e, já com a segunda parada no bolso, passou Magnussen. Assim como o dinamarquês, Russell, que vinha em quinto, tinha apenas uma parada. Sainz demorou um pouco mais a parar e entrou no fim da 33, junto de Pérez.
Mesmo com as paradas nos boxes sempre antes, Alonso não conseguia ser mais rápido que Ocon. Pela terceira vez na corrida, o francês passou e tomou a nona colocação. Tsunoda estava próximo das Alpine, como esteve desde o começo da corrida, mas parecia ter menos ritmo. Gasly se mantinha logo à frente dos carros rosados, mas sem fôlego para incomodar Magnussen. Com 20 voltas para o fim da corrida, a Haas parecia destinada a terminar como melhor do resto.
No passar das 40 voltas, a situação do desgaste de pneus aumentava ainda o protagonismo. A Ferrari avisou Leclerc que não estavam sofrendo tanto de desgaste quanto o rival, enquanto a Red Bull chamou o holandês para botar mais um jogo de pneus macios na volta 43. Sainz entrou nessa linha e, duas voltas depois, parou. Pérez também havia parado e voltado atrás de Lewis, mas o heptacampeão teve de ir aos boxes novamente.
Leclerc aparentava estar confortável com a situação e os mais de 30s de diferença, mas a situação mudou bastante um instante depois. Foi na volta 45, quando a AlphaTauri de Gasly começou a ter um incêndio na parte traseira. O francês parou na área de escape bem perto de onde Romain Grosjean sofreu aquele acidente violento de 2020 e, então, não tinha o que fazer: safety-car.
A Ferrari, agora, sim, mandou Leclerc entrar – o monegasco vinha na metade da pista. Era fundamental para que mantivesse a dianteira e foi o que fez. Por pouco, conseguiu entrar e voltar na frente. Isso era positivo, mas a entrada do safety-car apagava a vantagem e, com todo mundo de pneus novos, o que se apontava era um final pegado.
Perdido na situação de Gasly esteve a interação de Verstappen com a equipe no rádio, após a parada, dizendo que estava com muitas dificuldades de virar o carro. Quando o engenheiro falou para o holandês avisar se tivesse de parar nos boxes de novo… “Porra, só me diz se tem alguma coisa errada e como eu controlo. Diz que tem alguma coisa quebrada ou não”, pediu. O engenheiro respondeu que não.
A intervenção do primeiro safety-car desde aquele de Abu Dhabi foi se aproximando do fim do o aviso para os seis carros que estavam atrás da volta do líder para que tirassem a desvantagem. Todos eles! Verstappen recebia o aviso da Red Bull de que nada de errado havia sido notado no carro após uma avaliação que durou algumas voltas.
O safety-car avisou que entraria nos boxes no fim da 50ª volta, deixando seis de bandeira verde. Max tentou mostrar a Leclerc antes da relargada que lá estava, pronto para atrapalhar, mas Charles fugiu e Sainz é que foi pra cima de Max. Quem relargou bem foi Bottas, que se adiantou e entrou na zona de pontuação com o oitavo lugar e para cima de Magnussen, que chegou a atacar Russell e não passou.
Hamilton se aproximava para atacar Pérez na volta 53, enquanto Sainz seguia à espreita de um Verstappen que tinha certas dificuldades de guiar o carro e perdia 0s5 para Leclerc por volta. Na volta 54, Max questionava o que estava errado na bateria e, quando a equipe respondeu que estava tudo bem, foi taxativo: “não, não está”. Em seguida, o engenheiro avisava que o problema não era a bateria e que eles não sabiam o que se passava, mas que Max não tinha muito a fazer.
Assim, Sainz passou. E Pérez passou. E Hamilton. A três voltas do fim, Verstappen foi perdendo as posições e abandonou o GP do Bahrein. O novo top-10 era: Leclerc, Sainz, Pérez, Hamilton, Russell, Magnussen, Bottas, Ocon, Tsunoda e Alonso.
Duas voltas de tranquilidade para o fim? Nem pensar. Pérez também relatou que tinha problemas e o motor sofria. Hamilton se aproximava e, na tentativa de se defender, perdeu o controle do carro e saiu no traçado normal. De lado na pista, viu todo mundo passar. Num espaço de 2min, a Red Bull foi para zero ponto.
Vitória de Leclerc, que faz as pazes com a história dele mesmo no Bahrein, enquanto Sainz completou a dobradinha ferrarista e Hamilton fechou o pódio. Russell, Magnussen, Bottas, Ocon, Tsunoda, Alonso e Zhou, logo na primeira prova, completaram o top-10 e foram aos pontos. Além da pole e vitória, Leclerc também fez a volta mais rápida da corrida.
Fórmula 1 2022, GP do Bahrein:
Redação: Radio e Jornal A Voz do Povo.
Direção: Jornalista Marcio Carvalho.
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