Lei de acesso à lista de médicos não é seguida à risca, em 3 dos maiores hospitais do Rio 😱

 Não é de hoje que os cariocas reclamam da ausência de médicos em unidades de saúde do Rio. 

A queixa, muitas vezes causada pela falta de transparência sobre a alocação de profissionais nos hospitais, levou à aprovação da lei 7.917, em agosto de 2017, que determina a afixação, em locais visíveis ao paciente, da lista de plantonistas nas unidades de saúde.

De acordo com a legislação, cada hospital deve ter um painel contendo o nome dos médicos que estão atendendo na unidade juntamente com informações como registro de cada um no Conselho regional de Medicina (CRM), a especialidade, o dia e horário em que estão disponíveis para atendimento. O assunto chamou atenção após a agressão sofrida por uma médica, na madrugada de domingo, no Hospital municipal Francisco da Silva Telles, em Irajá, na Zona Norte do Rio. Ela era é única médica trabalhando no local, responsável por cuidar dos 60 pacientes que estavam na unidade.

Nesta terça-feira, O GLOBO percorreu três dos principais hospitais do Rio: Souza Aguiar, no Centro; Salgado Filho, no Méier, na Zona Norte; e Miguel Couto, na Zona Sul, e constatou que a determinação não vem sendo cumprida como deve. Confira abaixo:

Hospital Souza Aguiar

Do lado de dentro da sala de espera da emergência, um mural informativo fica à vista de quem transita pelo saguão. No quadro, há cartazes sobre vacinação contra a Covid-19, agendamento ambulatorial e uso de máscara. Já a obrigatória lista dos médicos plantonista da unidade, prevista em lei, não está afixada. A informação, na verdade, estava disponível na sala de emergência ortopédica, de acesso restrito.

Segundo a listagem, com a data desta terça-feira, cerca de 30 profissionais de diferentes especialidades estavam na unidade: bucomaxilofacial, cirurgia geral, cirurgia pediátrica, cirurgia vascular, clínica médica, neurocirurgia, pediatria, oftalmologia. otorrinolaringologia, ortopedia e urologia. Questionados na recepção se os médicos da listagem estavam mesmo na unidade, os atendentes disseram não ter essa informação.

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Por volta de 13h40, cerca de vinte pacientes aguardavam do lado de fora da emergência. Parte dos estavam na fila reclamava da demora no atendimento. Segundo eles, apenas dois médicos estavam atendendo na clínica médica, quando três constavam no quadro de plantonistas.

— Cheguei aqui às 9h30. Até agora não fui atendida na Clínica Médica. Lá dentro, eles falam que os médicos estão chamando um a um. Mas a minha vez não chega nunca. Perguntei para a menina que saiu do atendimento e ela disse que tem dois médicos atendendo. Isso é um absurdo — disse a auxiliar de serviços gerais Maria Rosa dos Santos, de 55 anos.

Uma técnica de enfermagem que preferiu não se identificar, afirmou ser comum a falta de médico na unidade. Assim como a falta de medicamentos e insumos. Segundo a funcionária, alguns médicos chegam a comprar remédios do próprio bolso para ajudar pacientes mais necessitados.

— Aqui sempre falta médico. É comum. Eles (o Hospital) colocam que está tendo atendimento, mas quando a pessoa chega buscando não tem. Infelizmente, a gente não pode fazer nada. Cabe ao hospital administrar melhor isso. Já vi médicos comprar remédio do próprio bolso porque na farmácia não tinha. É uma realidade triste para um lugar tão grande que poderia atender tantas pessoas — lamentou a técnica.

Hospital Salgado Filho

O quadro informativo, que deveria conter a listagem dos médicos presentes na unidade estava vazio. A recepção do hospital não soube informar o motivo de a listagem não estar em local visível. Já funcionários da unidade afirmaram que essa informação nunca constou no quadro.

Na unidade do Méier, a visão era de caos na entrada da emergência. O que se via era um entra e sai de pacientes e acompanhantes, nervosos por não conseguirem atendimento. Por volta das 14h30 desta terça-feira, uma senhora de 83 anos chegou ao local, acompanhada da filha. A vendedora pedia ajuda aos maqueiros para carregar a mãe que não tinha condições de sair do táxi. O funcionário informou que não havia cadeiras de rodas disponíveis na unidade. E que a falta do equipamento era um problema de tempos.

Hospital Miguel Couto

Quem chega à emergência precisa informar, na recepção, qual atendimento está buscando. Se for ambulatorial, é encaminhado para esperar na sala ao lado. Se for emergência, recebe uma identificação e também é orientado a esperar pelo atendimento clínico. No entanto, caso o paciente queira saber quais médicos e especialidades estão trabalhando na unidade naquele dia é informado pela equipe do hospital que “infelizmente não terá acesso à informação”. Ela, explicam, é restrita ao setor de Recursos Humanos da unidade, que fica próximo à sala de Raio-x, em área restrita. Nenhum mural informativo foi visto na entrada da emergência. No setor de exames e ambulatório havia um quadro informativo no qual não constava lista dos plantonistas.

O que diz a prefeitura

Em nota, a secretaria municipal de Saúde (SMS) informa que as “escalas estão disponíveis no sistema informatizado e é obrigação do RH de cada unidade conferi-las e afixá-las nos quadros de aviso” e que a secretaria “já reforçou esta obrigação para cada unidade de saúde”.

A SMS enviou ainda fotografias feitas de escalas afixadas em murais das unidades citadas. As imagens foram feitas pelas direções dos hospitais após questionamento.

Na mesma nota, a SMS afirma ainda que “no caso do Hospital Municipal Miguel Couto, as escalas estão no corredor central do andar térreo”; no Souza Aguiar, "ficam no Salão Negro, hall principal de atendimento do hospital” e no Salgado Filho “ao lado da recepção e na sala do Núcleo de Regulação, que funciona 24 horas”.

A nota segue ainda dizendo que “em relação ao Hospital Souza Aguiar, os três clínicos estavam presentes na unidade nesta terça-feira, atendendo os diversos setores da emergência de clínica médica, todos eles com registros de atendimentos nos prontuários dos pacientes” e que o “tempo médio de espera pelo atendimento não excedeu 30 minutos” na terça-feira.

Já a direção do Hospital Salgado Filho informou que “adquiriu cadeiras e macas novas e cada setor recebeu duas macas e uma de obeso” e que “não há registro de falta de cadeiras na unidade, mas, considerando a queixa, a direção vai apurar o ocorrido”.

Redação: Jornalismo A Voz do Povo.

Direção: Jornalista Marcio Carvalho

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